Por Natália Petrin em 25/02/2016

No ano de 1904, ocorreu no Rio de Janeiro um movimento de caráter popular que foi desencadeado pela campanha de vacinação obrigatória contra a varíola que foi imposta pelo governo federal. No início do século XX, o Brasil encontrava-se no período republicano, marcado por diversas revoltas populares e vários conflitos. A situação no Rio de Janeiro não era diferente, além de muito precária.

A falta de um sistema de saneamento básico eficiente acabava desencadeando diversas epidemias, como foi o caso da peste bubônica, febre amarela e a varíola. Por isso, o presidente Rodrigues Alves começou um projeto de saneamento básico e reurbanização do centro da cidade, e designou Oswaldo Cruz, médico e sanitarista, para ser chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública.

Vacinação obrigatória contra varíola

Em novembro de 1904 foi colocada, enfim, em prática, a campanha de vacinação obrigatória que, com objetivos positivos, foi aplicada de forma autoritária e violenta em que agentes sanitários invadiam as casas e vacinavam as pessoas de forma forçada. Isso fez com que as pessoas ficassem revoltadas, já que sequer entendiam o que eram as vacinas e quais seus efeitos.

A vacinação era obrigatória e somente aqueles que tivessem o comprovante de vacinação poderia ser contratado em empresas ou matriculado em escolas, além de se submeter ao casamento, entre muitas outras coisas que tornavam a vida social dos que não fossem vacinados impossível.

Conheça os fatos em torno da 'revolta da vacina'

Foto: Reprodução/ Portal do Professor/ MEC

Foi organizada também uma operação “mata mosquito” que era incumbida de perseguir e matar o mosquito e uma guerra aos ratos criando, inclusive, recompensas para quem levasse ratos mortos. Isso fez com que a população e oportunistas passassem a invadir casas para exterminar os animais.

A partir daí, a revolta começou a aumentar e foi impulsionada por problemas econômicos que geravam o desemprego, inflação e os altos custos de vida, assim como pela reforma urbana que derrubou cortiços e tirou a população pobre do centro da cidade.

O escritor Lima Barreto descreveu, em meio ao caos, em seu “Diário Íntimo”, as violências e arbitrariedades de que os populares revoltosos foram vítimas. “A polícia arrepanhava a torto e a direito as pessoas que encontrava na rua. Recolhia-as às delegacias, depois juntavam na Polícia Central. Aí, violentamente, humilhantemente, arrebentava-lhes os cós das calças e as empurrava num grande pátio. Juntadas que fossem algumas dezenas, remetia-as à Ilha das Cobras, onde eram surradas desapiedadamente”.

O fim da revolta

Os conflitos se espalharam e os populares começaram a destruir bondes, apedrejar prédios públicos e destruir a pacificidade na cidade do Rio de Janeiro. No dia 16 do mesmo mês do ano em questão, o presidente revogou a lei e colocou exército, marinha e polícia nas ruas para acabar com o tumultuo, o que fez com que a cidade voltasse a ordem em algum tempo.

A revolta da vacina simboliza, mais que um levante dos cariocas contra as medidas do estado, a resistência popular diante da truculência que permeia insistentemente e historicamente o contato entre poder público e povo. A vacinação foi uma medida para disciplinar a população pobre que sempre era vista como um obstáculo, somente, ao progresso e desenvolvimento do País.