Por Prof. Larissa Dutra em 12/10/2014 (atualização: 02/06/2020)

A Conjuração Baiana (também chamada de Revolta dos Alfaiates) durou de 1797 até 1799 com a execução dos seus líderes, e carregou objetivos similares aos da Inconfidência Mineira, de Tiradentes. Como os mineiros, os baianos reivindicavam a separação de Portugal e a criação de uma República.

O que diferencia esse movimento é que o caráter emancipatório era reivindicado pelas classes mais baixas da Bahia, tendo sido moldado e articulado por alfaiates, artesãos e soldados de baixa patente.

Causas da Conjuração Baiana

Conjuração baiana execução

A conjuração baiana foi um movimento liderado pelas classes mais baixas da Bahia (Imagem: Reprodução | Multirio)

A Conjuração Baiana foi um movimento anticolonial e de protagonismo dos mais pobres. A sua principal queixa era o governo de Portugal que determinava impostos e fechamento de portos, o que afetava diretamente a vida dos cidadãos.

Essa crise, no entanto, vai começar com a modificação da capital do Brasil, de Salvador para o Rio de janeiro, em 1763.

Com a mudança, a Capitania da Bahia, ou Salvador, perdeu muitos benefícios e uma grande parte da população de servidores públicos, que aumentava a renda per capita da cidade, se mudou, fazendo uma economia menor circular.

Com o passar do tempo, a crise urbana passou a afetar a produção agrícola da farinha de mandioca, um dos principais alimentos da época, e da produção pecuária, atingindo o abastecimento de carne.

Os fechamentos de portos pelos portugueses para tentar frear a saída e entrada de escravos, foi um dos principais fatores para a crise, já que a Bahia tinha como principal atividade econômica a exportação de produtos.

Entre 1797 e 1798, se tornaram frequentes saques a armazéns, casas e pessoas, devido a falta de alimento.

Nessa época, soldados de baixa patente recebiam pouco e eram extremamente humilhados e deixados de lado como cidadãos. Esses homens encabeçaram a Conjuração Baiana junto com os alfaiates e os artesãos.

Salvador tinha uma população de, aproximadamente, 60 mil habitantes, onde 65% eram afro brasileiros. A questão racial era de suma importância para os integrantes da Conjuração Baiana. Eles reivindicavam a abolição da escravatura total e o fim de preconceito de raça.

Objetivos

Os objetivos concretos da Conjuração Baiana foram então:

  • O aumento salarial dos soldados de baixa patente.
  • A abolição da escravatura e o fim do preconceito racial.
  • A diminuição dos impostos e abertura dos portos.
  • O direito ao voto universal, sem ser censitário, como era até então.
  • A proclamação da república.

Principais líderes da Conjuração Baiana

Líderes da Conjuração Baiana

Os líderes da Conjuração Baiana foram executados em praça pública (Imagem: Reprodução | Ceert)

A liderança da Conjuração Baiana foi formada por homens negros que exerciam funções populares. Entre eles estavam Luís Gonzaga e Lucas Dantas, que eram soldados, e João de Deus e Manuel Faustino, alfaiates.

Inspirações

O movimento foi fortemente influenciado pelas ideias jacobinas de revolução da França, que pregavam sobretudo, o fim da escravidão.

Outra fonte de inspiração para os baianos foi a independência do Haiti. País de maioria negra que estava passando por um processo de guerra civil contra os domínios da França.

Quando a revolta estourou, uma parcela da população mais rica que formava um grupo da maçonaria, intitulado Cavaleiros da Luz, tentaram encabeçar o projeto.

Cipriano Barata foi um médico e participante desse grupo, responsável por escrever e distribuir panfletos de preparação para revolta contra Portugal. Mas, ao fim, não conseguiram seguir na liderança.

Consequências

Uma forte repressão foi colocada contra a população baiana, que vivia em constante estado de guerra desde a explosão das revoltas.

Uma série de integrantes foram presos e torturados por muito tempo, até delatarem os nomes dos principais líderes da Conjuração Baiana.

Como terminou a Conjuração Baiana

Os militares que estavam sob o poder do governador Fernando José de Portugal, conseguiram prender alguns integrantes que delataram os líderes da Conjuração Baiana.

Em 1797, foram presos 49 homens ao total, sendo quatro executados em praça pública, e depois esquartejados como demonstração de força do poder imperial de Portugal, para que as revoltas acabassem.

Os quatro homens executados foram: Luís Gonzaga, Lucas Dantas, Manuel Faustino e João de Deus. Cipriano Barata também foi preso, mas a sua sentença foi branda, por estar em uma posição social mais elevada.

Durante muitos séculos, os quatro revoltosos da Conjuração Baiana foram colocados como marginais e criminosos pela história contada, diferente do que aconteceu com Tiradentes que foi utilizado como herói nacional.

Mas, em 2011, o governo federal colocou os nomes de Luís Gonzaga, Lucas Dantas, Manuel Faustino e João de Deus como de heróis nacionais.

Resumo do Conteúdo
Nesse texto você aprendeu que:

  • A Conjuração Baiana foi um movimento anticolonial e separatista, como a Inconfidência Mineira.
  • Os lideres da Conjuração Baiana foram Luís Gonzaga, Lucas Dantas, Manuel Faustino e João de Deus.
  • Que as ideias que influenciaram a Conjuração Baiana vieram da França e da independência Haitiana.
  • A Conjuração Baiana buscava a libertação dos escravizados.

Exercícios resolvidos

1) Quais foram as ideias que influenciaram a Conjuração Baiana?
R: A Conjuração Baiana foi fortemente influenciada pelos jacobinos na França, que pregavam o fim do trabalho escravo e da independência Haitiana contra os franceses.
2) Quem foram os principais líderes da Conjuração Baiana?
R: Os principais líderes da Conjuração Baiana foram Luís Gonzaga, Lucas Dantas, Manuel Faustino e João de Deus.
3) Qual é a principal diferença da Conjuração Baiana para a Inconfidência Mineira?
R: A Conjuração Baiana foi articulada pelas classes mais pobres da população, enquanto a Inconfidência Mineira foi encabeçada pelas classes média e alta.
4) Quais foram os objetivos da Conjuração Baiana?
R: Os objetivos concretos da Conjuração Baiana foram então: o aumento salarial dos soldados de baixa patente; a abolição da escravatura e o fim do preconceito racial; diminuição dos impostos e abertura dos portos; direito ao voto universal, sem ser censitário como era até então; e por fim a proclamação da república.
5) Como a Conjuração Baiana terminou?
R:” style=”fancy” icon=”plus-square-1″]R: A Conjuração Baiana terminou com a delação de seus líderes e com a execução deles em praça pública.

*Larissa Dutra é historiadora e professora, com formação pela UNESA do Rio de Janeiro.

Referências

» VALÍM, Patrícia. Da sedição dos mulatos à conjuração baiana de 1798: a construção de uma nova memória histórica (tese de doutorado em história) – USP São Paulo – SP. 2007. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-12022008-111026/publico/DISSERTACAO_PATRICIA_VALIM.pdf. Acesso em: 19 de maio de 2020.

» TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: Editora UNESP; Salvador (BA): EDUFBA, 2001.