Por Robson Merieverton em 06/06/2016

Um verdadeiro impasse foi criado desde que foi divulgada a notícia da produção e uso da fosfoetanolamina, medicamento que ficou conhecido como “pílula do câncer”. Depois de ter a distribuição liberada, logo em seguida suspensa, pela falta de embasamento científico quanto à eficácia em seres humanos, novos testes foram realizados. Custeado pelo Governo Federal, ratos e camundongos receberam doses da sustância, porém, não tiveram nenhuma melhora quanto ao tratamento.

Nas pesquisas conduzidas pelo professor Manoel Odorico de Moraes Filho, foram inseridos tumores de proliferação rápida nos roedores. Em seguida, parte dos animais recebeu doses de fosfoetanolamina durante 10 dias. No período de avaliação, outros animais saudáveis serviram como base para que a eficiência da substância fosse comprovada. Ao fim da avaliação, os roedores tratados não apresentaram nenhuma melhora. Para que não houvesse dúvidas, os estudos foram revisados por especialistas.

Até agora, a boa notícia revelada pelas pesquisas é de que a fosfoetanolamina não é tóxica, mesmo quando ingerida em concentrações altas. Liderados pelo químico e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) Gilberto Chierice, um grupo de pesquisadores contestou os resultados dos testes, alegando que a quantidade da substância utilizada era bem inferior às empregadas no estudo idealizado por eles. Chierice ainda afirmou que já haviam sido realizados testes, na década de 1990, em pacientes, com resultados satisfatórios.

Imagem de cápsulas da pílula do câncer

Foto: Cecília Bastos/ USP Imagens

Testes com a fosfoetanolamina sem efeito

No último teste realizado pelos pesquisadores, este custeado pelo governo federal, dois grupos de roedores receberam doses da substância. Após 10 dias de tratamento, sua utilização não foi capaz de inibir o crescimento das células do câncer. No sétimo dia, já havia tumores que podiam ser medidos, tanto no grupo que foi tratado com soro fisiológico, quanto com combinações de injeções de ciclofosfamina (produto químico conhecido). Em ambos os casos, a fosfoetanolamina impediu que os tumores crescessem muito, mas não impediu que os mesmos parassem de crescer.

Composição da pílula usada nos testes

Os testes realizados pela equipe de pesquisados custeada pelo governo de São Paulo, utilizou uma pílula de 300mg e não de 500mg, como divulgado anteriormente.  A composição dela era de 32,2% de fosfoetanolamina, 34,9% fosfato de cálcio, magnésio, ferro, manganês, alumínio, zinco e bário. Entraram ainda no composto 18,2% manoetanolamina protonada, 7,2% de água, 3,9% de fosfobisetanolamina e 3,6% de pirofosfatos de cálcio, magnésio, ferro, manganês, alumínio, zinco e bário.

Legislação sobre a utilização e venda da “pílula do câncer”

Mesmo depois de toda polêmica gerada em torno da utilização e venda da substância, a livre escolha do paciente ainda prevalece. Porém, é necessário que ela seja proveniente no diagnóstico do paciente e este mesmo assine um termo de consentimento e responsabilidade sobre o seu uso, já que os testes em humanos ainda estão sendo realizados, sem eficácia comprovada. A lei libera a produção, importação, distribuição e uso da fosfoetanolamina, mesmo sem que ela tenha registro na Anvisa.

A substância ainda está sendo produzida para estudo, sem que haja qualquer registro de laboratório que sinalize a produção e venda em larga escala. O Superior Tribunal Federal ainda não autorizou a USP a produzir a substância por entender que esta não é de competência da universidade.