História

Capitão-do-mato: o que é, o que fazia e qual sua importância

O capitão-do-mato foi uma figura importante na construção da sociedade colonial do Brasil persistindo até o período da Abolição da Escravatura [1] (1888).

A sociedade de então se dividia principalmente em três elementos: os senhores de escravos, os escravos e os homens livres pobres. Estes últimos foram uma camada muito diversa da população que habitava o Brasil durante o período colonial.

Essas pessoas possuíam diferentes profissões, poderiam ser    (alforriados ou forros), negros ou não (brancos, indígenas, mestiços) nas diferentes localidades do território colonial.

Capitão-do-mato montado em cavalo

O capitão-do-mato capturava e punia escravos que fugiam (Foto: Reprodução | Wikimedia Commons)

Esta camada da população tinha como uma possibilidade de ocupação a atividade de capitão-do-mato, também conhecido como capitão-de-assalto-e-entrada.

Para além da convivência e disputa com os escravos fugidos ou não, o capitão-do-mato e a sociedade colonial também conviviam com os quilombos, locais que se tornavam sociedades diferenciadas do restante da sociedade colonial para onde os escravos fugidos iam.

O que é um capitão-do-mato?

O capitão-do-mato era uma função policial exercida na sociedade colonial para com os escravos fugidos, fossem eles de quilombos [2] ou não.

Eram compostos por uma camada muito diversa da população de homens livres pobres (uma forma de nomear a camada livre da sociedade, porém não possuidora de riqueza suficiente para serem senhores de escravos).

Estas pessoas eram agregadas nas fazendas dos senhores que por vezes trabalhavam lado a lado com escravos num regime de trabalho diferenciado.

Essa figura da repressão foi se tornando institucionalizada quando mais fugas ocorriam e mais quilombos surgiam, ou seja, a Coroa de Portugal passou a criar leis regulando cada vez mais a sua ação.

Atendendo às ordens dos colonos, eles caçavam escravos que fugiam e controlavam revoltas da população local, com violência e crueldade.

Por exercerem um papel de certa “autoridade” era muitas vezes alvo de inveja, mas também era desprezado por causar sofrimento aos mesmo da sua classe (já que muitas vezes eles eram ex-escravos). 

Qual a função do capitão-do-mato?

A função principal do capitão-do-mato era a manutenção da ordem escravocrata no Brasil. Para isso, realizavam castigo, caça e captura de escravos fugidos, assim como participavam das expedições punitivas de guerra aos quilombos.

Os quilombos eram vistos como uma ameaça à ordem dos senhores e à escravidão, motivo porque era muitas vezes alvo de repressão. Era nos quilombos que os escravos se refugiavam e se juntava aos mesmos na sua condição formando uma força de resistência contra os colonos.

O capitão-do-mato precisava “cortar na fonte” o crescimento desses centros de refúgio. Além disso, também exerciam diferentes funções secundárias na sociedade: entrega de cartas, abastecer as vilas e cidades de alimentação etc.

A figura do capitão-do-mato atuava dentro da dinâmica da sociedade colonial, que não funcionava só tendo em vista o lucro, mas a sobrevivência dos negócios na colônia, como: cultivo de cana-de-açúcar e depois do café, sendo os escravos a principal fonte de mão-de-obra.

Qual a sua importância para a história?

Os capitães do mato possuem uma importância para a história e para a memória da escravidão no Brasil.

Eles são lembrados como figuras de manutenção da ordem, inseridos na lógica da escravidão, pois não tinham a possibilidade de escolha.

É necessário ver a importância dessa figura no período estudado, assim como para a memória: sua figura é usada para qualificar pessoas negras que oprimem pessoas também negras no tempo presente.

Utilizando-se dessa aproximação histórica, podemos perceber o quão essa figura acaba sendo alvo de todo ódio e de toda forma de perseguição pela traição que estaria cometendo ao praticar sua profissão.

Resumo do Conteúdo

Nesse texto você aprendeu que:

  • O capitão-do-mato foi uma figura que atuou durante o período colonial no Brasil.
  • O capitão-do-mato era encarregado de caçar, capturar e castigar escravos.
  • O   capitão-do-mato era um homem livre pobre, geralmente escravos ou negros alforriados.
  • A Coroa de Portugal regulamentou essa “profissão”.
  • O capitão-do-mato era odiado porque se voltava contra sua raça.
  • Sua principal função era a manutenção da ordem escravocrata no Brasil.
 

Exercícios resolvidos

1- Quem eram os capitães-do-mato?
R: O capitão-do-mato era uma figura com função de polícia, responsável pelo controle do Brasil colonial e pós-Independência. Eram homens livres pobres, que nem eram escravo nem senhor, mas vendia sua força de trabalho.
2- Qual a função do capitão-do-mato?
R: Eles eram responsáveis, principalmente, pelo castigo, caça e captura de escravos fugidos.
3- Por quanto tempo existiu a profissão de capitão-do-mato no Brasil?
R: Até a Abolição da Escravatura, 1888.
4- Quais as relações entre capitão-do-mato e os outros membros da sociedade do Brasil colonial?
R: Eles tinham relações complicadas com os outros membros daquela sociedade. Negociando ou impondo sua vontade, eram bem pagos pelos senhores para exercer sua função com violência.
5- Qual a importância do capitão-do-mato para a História?
R: Eles tinham a função de manter a escravidão funcionando no dia a dia, ou seja, uma função muito importante para a época.

* Fabíola Magossi é bacharel e licenciada em História pela Universidade de São Paulo.

Referências

» BALDO, Mario. O capitão-do-mato. 1980. 132 f. Dissertação (Mestrado em História do Brasil). Curso de Pós-graduação em História, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1980.

» COSTA, Emília Viotti da. Da senzala a colônia. 6. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2010.

» COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia a República. 9. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2010.

» FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens Livres na Ordem Escravocrata. 4. Ed. São Paulo: Editora Unesp, 1997.

» MARQUESE, Rafael de Bivar. A dinâmica da escravidão no Brasil: resistência, tráfico negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX. Novos estud. – CEBRAP,  São Paulo ,  n. 74, p. 107-123,  Mar.  2006.

» MOURA, Clóvis. Dicionário da Escravidão Negra no Brasil. São Paulo: Edusp, 2004.