Em algum momento da vida você deve ter pensado: Será que todo político é corrupto? Essa dúvida está se fazendo presente no Brasil há muito tempo, mas hoje em dia com bem mais intensidade.
De acordo com cientistas políticos, a corrupção é um mal que vai além do campo político. Infelizmente, trata-se de uma condição instalada em todos os segmentos da sociedade mundial.
Então, no Brasil não é diferente. A Operação Lava Jato e os mensalões de diversos partidos são alguns dos grandes escândalos de corrupção no país envolvendo políticos. Assim, favorecem o fortalecimento da ideia de que todos os políticos são corruptos.
Todo político é corrupto?
Em primeiro lugar, é importante destacar o que significa a palavra “política”. Em artigo do Jornal A Tribuna [1], afirma-se que o termo é derivado do grego antigo “politeia” e faz menção a todos os procedimentos relativos à “pólis” (Cidade-Estado).
Em outras palavras, política é tudo referente à sociedade, coletividade, vida urbana. Logo, todas as pessoas que vivem em sociedade são consideradas políticos. Consequentemente, quando se usa a generalização de que todo político é corrupto, afirma-se que todo cidadão também o é.
Mas, será que isso é mesmo é verdade? Ainda de acordo com o artigo de opinião do jornal, o filósofo Sócrates teria dito: “Todo corpo é corrupto, ele faz aquilo que é melhor para ele”.
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Levando em consideração essa afirmação, é necessário pensar sobre algumas conclusões: todo cidadão é um corpo; segundo Sócrates, todo corpo é corrupto; e todo cidadão é político.
“[…] isso nos leva a uma desatenta e imediata conclusão de que todo político é corrupto. Acontece que nem todos os desejos do corpo são incontroláveis […] Ter consciência sobre o colectivo pode ser a única saída para acabar com essa perniciosa prática que destrói grande parte dos sonhos humanos”, expressa o artigo do jornal.
Contudo, mesmo diante desse cenário, é necessário ressaltar que há a possibilidade de se criar políticos não corruptos. Para o jornal, qualquer cidadão (por isso político) que tenha educação e possa ser crítico ao assumir um cargo público não vai se deixar levar pela corrupção.
“[…] se assumir um cargo público para trabalhar pela coletividade, irá, talvez, receber estímulos e possibilidades de se corromper, no entanto, sua consciência predominará e tomará a melhor decisão: a seriedade. Pois um mal causado à coletividade é também um mal causado a quem o provocou.”
Corrupção na política brasileira
A visão da política brasileira pelos cientistas políticos não são positivas. De acordo com o economista e cientista político Bruno Pinheiro Wanderley Reis, a conduta de corrupção no Brasil é “um comportamento-padrão”.
Já para o professor de ciência política da Universidade de Pittsburgh (EUA), o americano Barry Ames, o sistema político brasileiro favorece a corrupção e precisa dela para funcionar.
Em entrevista dada a BBC Brasil [3], Bruno Pinheiro aponta por quais razões a política brasileira é corrupta. Além disso, o cientista político mostra quais seriam as possíveis soluções para esse problema.
“Você tem que combater corrupção, sim, é uma tarefa permanente do Estado, mas é mais ou menos como empresa de computação criando antivírus. Ela não vai conseguir extinguir os vírus. Ela vai fazer antivírus o tempo todo. Isso não tem um ponto de chegada”, exemplifica.
Ainda segundo o especialista, o grande desafio do Brasil é proteger os políticos que não são corruptos. Isso porque, para ele, a corrupção começa antes mesmo do pleito: na arrecadação de dinheiro para campanha.
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No Brasil há regras sobre quem pode e quanto pode doar para campanhas políticas. Assim, os candidatos que mais conseguirem doações de empresas grandes, acabam ficando reféns desses doadores.
“O que significa que é um sistema propenso a captura do representante pelo financiador, portanto é um sistema que a gente pode querer chamar de corrupto por definição. Corrupto na lei, a lei o torna corrupto”, explica.
Soluções para os políticos corruptos
Ambos os cientistas políticos acreditam que a cadeia deve ser o destino final dos políticos corruptos. Mas, segundo eles, esse tipo de atitude não põe um fim na corrupção em si.
“Primeiro, seria desejável reduzir o número de partidos no Legislativo. O número atual é tão alto que eleva o preço – em termos de obras públicas e cargos políticos – da construção de coalizões, e reduz a velocidade do processo legislativo”, elenca Barry Ames em também entrevista a BBC Brasil. [5]
Como segundo passo o professor americano indica que fosse criado um sistema eleitoral capaz de formular laços reais entre eleitores e partidos.
Por fim, Barry fala sobre diminuir o número dos colégios eleitorais. “Isso ajudaria os eleitores a conhecer seus deputados e vigiá-los”, completa.
Político corrupto X Cidadão corrupto
De uma maneira geral, os brasileiros reclamam, atacam e criticam os políticos corruptos. Por outro lado, parecem não perceber que no dia a dia também é possível aderir a corrupção de alguma forma.
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Segundo o psicólogo, terapeuta e escritor Hugo Lapa, não adianta apenas criticar os que estão nos cargos públicos. Isso porque, quem deseja o fim da corrupção do Brasil também precisa se policiar diariamente.
Em seu site, Hugo Lapa lista pelo menos 20 atitudes [7] que muitos brasileiros cometem e que são tão corruptas quanto um político que rouba dinheiro público.
Portanto, é importante estar atento a suas próprias atitudes. Policiando-se e buscando ser honesto são formas de lutar por um país melhor e pelo fim da corrupção. A seguir é possível ver algumas situações em que a honestidade deve vencer a corrupção:
As ‘pequenas’ corrupções
- Receber um troco a mais do que esperado e não devolver;
- Trocar o voto por presentes, dinheiro ou qualquer coisa que beneficie a você próprio;
- Mesmo dirigindo, falar no celular;
- Saquear cargas de caminhões viradas;
- Utilizar de suborno para se livrar de infrações;
- Dirigir embriagado, mesmo sabendo que isso é uma atitude fora da lei;
- Passar o filho por debaixo da catraca do ônibus, só para não pagar a tarifa da passagem;
- Estacionar em vagas que são exclusivas para pessoas com deficiência;
- Comprar CD ou DVD pirata, mesmo sabendo que é crime e que vai prejudicar as pessoas que vivem de sua arte;
- Forjar doenças e acabar usando de atestados médicos falsos para faltar no trabalho.
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